O ENIGMA DE OUTRO MUNDO

MacReady : Nós vamos tirar um pouco do sangue de todo mundo… porque nós vamos descobrir quem é a Coisa. Observar Norris me deu a ideia de que… talvez cada parte dele fosse um todo, cada pedacinho era um animal individual com um desejo embutido de proteger sua própria vida. Veja bem, quando um homem sangra, é apenas tecido, mas o sangue de um de vocês, da Coisa não obedecem quando são atacadas. Vai tentar sobreviver… se arrastar para longe de uma agulha quente, digamos.” O enigma de Outro Mundo/1982.

A conhecida Síndrome da Cabana acontece quando uma pessoa ou grupo se vê isolado em algum lugar, sem nenhum contato com o exterior, e ao longo dos dias, sinais de irritabilidade, confusão mental e alucinações vão surgindo. Isso pode servir de ponto de partida para que cineastas criem histórias em que a tensão serve de apoio para inúmeros roteiros com esse tipo de atmosfera.

De acordo com o próprio John Carpenter que delimitou sua “Trilogia do Apocalipse” com os filmes; O enigma de Outro Mundo (1982); Eles Vivem (1988); e Príncipe das Sombras (1987). Pode haver discordâncias entres alguns críticos que colocam O enigma como o último da “Trilogia do Grande Horror”, junto com Halloween (1978) e A Bruma Assassina (1980), já que são filmes em que suas conhecidas técnicas ficam mais em evidência.

The Thing” não foi um grande sucesso de bilheteria e público na época de seu lançamento, talvez por causa de outro filme de ficção de científica, com apelo maior do público que foi E. T – O Extraterrestre (1982), de Steven Spielberg. Com o passar dos anos o filme de John Carpenter atraiu uma grande legião de admiradores devido as inúmeras reprises na televisão aberta, e não só isso, ele representa o início de um subgênero do terror: o Splatter ou Gore, que George A. Romero definiu em 1978 com ZombieO Despertar dos Mortos. Filmes com essa classificação contém excesso de cenas com sangue, violência, tortura, entre outros.

Na inóspita região da Antártica, um grupo de pesquisadores da base militar americana, são surpreendidos com a invasão de uma forma de vida desconhecida que estava enterrada na neve. Aos poucos cada membro da estação vão sendo infectados pelo alienígena, que tem a capacidade de se adaptar as células humanas e de se apossar de seus corpos, quase passando desapercebido. Ficando incapaz de saber quem é quem dentro do grupo. Cada vez mais paranoicos eles começam a suspeitar um dos outros gerando desconfiança e uma possível sabotagem por parte de algum deles, que já estaria infectado e tramava contra os outros.

Quando um dos cientistas MacReady (Kurt Russell) descobre um teste usando o sangue de alguns dos sobreviventes, para tentar saber qual deles ainda não está contaminado pelo Alienígena. Seria a chance de tentar fazer com que ele não escapasse da estação ou não ficasse congelado e atacasse a próxima equipe de resgate.

Apesar de a história lembrar o que H. P. Lovecraft (1890-1937) escrevia, essa é uma adaptação do conto “Who Goes There?” de John W. Campbell Jr. Publicada pela primeira vez em 1948 pela revista “Shasta Publishers”, especialista em ficção científica e fantasia, ele publicou sob o pseudônimo de Don A. Stuart. O conto foi adaptado para o cinema pela primeira vez em 1951, por Howard Hawks (Onde começa o inferno), em um período em que o Macarthismo estava em voga nos Estados Unidos. Esse filme de 1982 não chega a ser um clássico remake do filme de Hawks.

O que é explorado aqui é a sensação de claustrofobia, medo do desconhecido, e as consequências de ficar tanto tempo preso longe da civilização. O enigma de Outro Mundo é uma das melhores realizações de John Carpenter, dentro do universo do terror criado por ele. Logo no início quando vamos conhecendo esses homens, envoltos de uma atmosfera gélida, aparentemente sem chance de escapar. É criado um clima que depois que essa vida alienígena entra em simbiose com o corpo humano, o poder dela só faz crescer a atmosfera ameaçadora do filme.

EU NÃO SEI O QUE DIABOS ESTÁ LÁ, MAS É ESTRANHO E CHATEADO, SEJA O QUE FOR

O filme é brilhante em muitos aspectos, ele consegue transitar bem entre ser um filme de monstro ou filme de ação, e claro como um horror / ficção científica. Tem em sua narrativa um olhar sobre como funciona a psique humana, que de acordo com Carl Jung, podem ser processos inconscientes ou conscientes do ser humano, realizado de uma maneira muito peculiar em um filme de ficção científica.

Quando o roteiro avança para o senso de paranoia, desconfiança e medo, que junto com a direção de Carpenter, mas também pela competente performance do elenco, é revivido a aura da época do Macarthismo. Em que se procuravam e perseguiam os comunistas, muitos atores foram considerados alcaguetes por apontar quem era envolvido com práticas comunistas.

Kurt Russell pode não ter sido valorizado para o papel principal de MacReady e, acabou resultando diretamente, que ele pode ser encarado como uma pessoa real, em vez de ser estigmatizado como o grande herói hollywoodiano. O restante do elenco desempenharam seus personagens com estilo próprio, finalizando uma atmosfera genuína, em tons elevados de tensão em um filme digno de ser um clássico absoluto do cinema.

Considerado como um dos melhores filmes que abordou o tema de invasores de corpos da década de oitenta. Foi um dos primeiros a mostrar de forma explícita, sem nenhum pudor, corpos esfacelados, ossos saindo da carne, numa contorção sincronizada de beleza visual e detalhes. John Carpenter conseguiu elevar o horror Gore para além de uma mera obra grotesca cinematográfica, ele criou um filme de tensão crescente em meio a um subgênero que até hoje sofre preconceito. O enigma de Outro Mundo é uma homenagem aos clássicos filmes B de ficção científica dos anos cinquenta.

FICHA TÉCNICA

O enigma de Outro Mundo (Thing, The, EUA, 1982)

Direção: John Carpenter.

Elenco: Kurt Russell, Wilford Brimley, T. K. Carter, David Clennon, Keith David e Richard A. Dysart.

Roteiro: Bill Lancaster, inspirado no conto “Who Goes There?”, de John W. Campbell.

Fotografia: Dean Cundey.

Idioma: Inglês e Norueguês.

Direção de Arte: Henry Larrecq.

Produção de Design: John J. Lloyd.

Maquiagem: Lance Anderson.

Cor.

Duração: 109 minutos.